sábado, 23 de outubro de 2010

O INVASOR

Em todos os meus anos de militância política o que sempre me deixou em polvorosa foram as atitudes tomadas pelo poder público e pela iniciativa privada para com invasores de terras.
Tive o imenso prazer não apenas de conhecer , más também de conviver junto das pessoas que organizaram a primeira invasão urbana no pais , pois antes do feito deles só haviam invadido áreas rurais.
Esta invasão foi num conjunto de casas chamado Centreville que foi idealizado para ser um empreendimento para a classe média alta da época porém a empresa começou a obra pegou o montante emprestado dos bancos estatais para efetuar a obra e sumiu com o mesmo.
Sim senhores os donos sumiram com o dinheiro e ninguém fez nada pois ainda era ditadura militar e a policia e o estado estavam ocupados enriquecendo com golpes como este e caçando comunistas.
Mas sempre fiquei indignado com as desocupações pois ninguém invade um local atrás de casa para morar ou local para plantar e trabalhar simplesmente para afrontarem o estado.
Fazem isso justamente porque o estado junto com os latifundiários e a burguesia intolerante querem manter o status quo , mesmo que seja debaixo bombas de gás e tanques de guerras.
E a pouco tempo no jardim que possuo no fundo de minha casa onde tenho plantadas algumas flores foi invadido por um passarinho que construiu seu ninho em uma das plantas que la existem.
Um ninho muito parecido com os barracos construídos pelos sem teto , com gravetos , um pedaço de lasca de madeirite e grana seca.
E ficando estabelecido em meu jardim um invasor , comecei a prestar atenção nele , e percebi que como nos sem teto ele so vai ao ninho (barraco) para dormir.Quando chove apesar de bem construído com suas próprias mãos(patas e bicos) ele se molha pois a água insiste em entrar ,e mediante a tempestades ele e obrigado a abandonar o ninho (barraco) até o alagamento passar.
Durante a noite fui várias vezes observar meu invasor em seu castelo de madeira , e ao olhar adentro do mesmo ele me olha assustado e se mantém imóvel , igual fazem os sem teto quando tem a sua porta os integrantes do tático cinza ( nome atual dos navios negreiros) , pois nestas horas e melhor ficar imóvel mesmo.
Poderia eu então expulsar o passarinho e destruir seu castelo como fazem com os sem teto , e depois o que eu faria com a planta a qual abriga o ninho?????
A resposta é simplesmente nada , pois nada eu fazia com aquela planta alais nem notava a existência dela era apenas mais uma em meu jardim.
Porém ao tomar a decisão de permitir meu invasor de ficar com ela , posso a cada dia ver sua evolução não a evolução das espécies como fez Darwin mas sim a evolução social da vida de um invasor , que muito parece com as dos humanos apesar dele ser um pássaro , o qual nem sei a espécie exata.
Com isso ele se tornou dono desta planta em meu jardim , dono por ocupação legitima , e não por titulo de posse , como decreta uma lei que fez com que os quilombos não fossem dos negros ali estabelecidos mas sim de quem tinha um documento de posse em cartório.
Mas voltando a evolução social de meu invasor , que já arrumou uma companheira , e já estão chocando ovos e logo escutarei os barulhos de suas crias e quem sabe terei mais ninhos em meu jardim.
Assim deveriam proceder os proprietários de terras que as tem apenas por ter , poderiam deixar os invasores entrar em acordo com a questão de venda e titulo de propriedade e quem sabe até lucrar muito com empreendimentos no local.
Portanto se for para ser capitalista então sejam mas com humanidade pois há uma regra que diz que antes de somar temos que dividir para multiplicar e ai poderemos somar ,
E vendo agora meu invasor com seu castelo de madeira , onde ele fez um puxadinho para abrigar as crias e a companheira , vejo que assim como os seres humanos para eles evoluírem socialmente precisam apenas de um lar seguro e tranqüilo para criar seus filhos e ter onde descansar as noites depois de longos dias de trabalho.

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